No programa Conexão Sociedade, da Rádio Sociedade da Bahia, desta terça-feira (20), a psicoterapeuta e neurocientista Ana Chaves falou sobre o fenômeno dos bebês reborn, bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos, e destaca: “Estamos vivendo uma avalanche de desumanização”.
A especialista explicou que o crescente apego de adultos a esses bonecos pode sinalizar questões profundas, como dificuldades na interação social, isolamento, necessidade de controle ou até depressão. E explica que quando esse comportamento se espalha passa a ser considerado um fenômeno social.
Segundo Ana, o termo reborn significa “renascido”, o que levanta a pergunta: “O que se perdeu para que tantas pessoas estejam buscando renascer?” Seria medo? Trauma? Carência? Busca por pertencimento ou identidade? Esses questionamentos, segundo ela, precisam ser feitos com profundidade.
Embora o apego a objetos seja algo comum, a especialista alerta que, ao se atribuir vida a um boneco, acendemos um sinal vermelho. “Que grito de socorro é esse? (…) Não é só sobre o reborn. Não é o superficial. É sobre o que está lá dentro, na raiz. (…) A teoria do apego nos leva a refletir: o que essa criança viveu para que essa adulta se relacione dessa forma com um objeto?”, analisa.
Ela destaca ainda que o problema não é o boneco em si. O uso terapêutico de bonecos tem respaldo científico, como em um estudo desenvolvido na Itália, que demonstrou a redução de sintomas como agressividade e apatia em idosos com demência, a partir da introdução de bonecos em casas de repouso.
Porém, o alerta se dá quando o reborn deixa de ser um símbolo de apoio emocional e passa a ocupar o papel de filho, sobrinho ou pessoa real. É nesse ponto que os especialistas se preocupam, quando o boneco preenche um espaço que deveria ser ocupado por relações humanas.